Mosca morta no unguento

"Qual a mosca morta faz o unguento do perfumador exalar mau cheiro, assim é para a sabedoria e a honra um pouco de estultícia” (Eclesiastes 10:1).
O Oriente Médio é território fértil na produção de bons perfumes. Os perfumadores são profissionais tarimbados na produção de sofisticados aromas. É sabido que um bom perfume é feito de uma essência de qualidade. Maria, irmã de Marta e Lázaro ungiu os pés de Jesus com um perfume preciosíssimo, feito de nardo puro. A essência não era híbrida, mas pura. Daí, o resultado foi um perfume preciosíssimo.
Salomão lança mão dessa tarefa do perfumador e descreve uma cena catastrófica. O perfumador olha e vê uma mosca morta exalando um mau cheiro no precioso unguento. Esse corpo estranho pôs a perder todo o seu trabalho. Essa mosca morta no unguento torna todo o perfume imprestável. Em vez do unguento produzir um perfume embriagador, o próprio unguento tem um mau cheiro insuportável. Em vez de atrair as pessoas pelo aroma, afasta-as pelo mau cheiro. Basta uma mosca num vasilhame de unguento para comprometer toda a qualidade do perfume. Mosca morta e unguento não são compatíveis. Mau cheiro e perfume não podem coexistir.
Por que Salomão usa essa figura? Para destacar que sabedoria e honra não podem tolerar estultícia. Um pouco de estultícia é suficiente para destruir a honra e arruinar a sabedoria. O que é estultícia? É a atitude reprovável, a palavra torpe, a reação intempestiva. Estultícia é o antônimo de sabedoria. Estultícia é o contrário de honra. A estultícia aplaude a ignorância e faz troça do conhecimento. A estultícia venera o que deveria repudiar e repudia o que se deveria respeitar. A estultícia envergonha-se do que deveria ter respeito e orgulha-se do que deveria ter vergonha. A estultícia advoga não apenas a tolerância ao erro, mas a inversão de valores. A estultícia chama luz de trevas e trevas de luz; o doce de amargo e o amargo de doce.
Assim como o perfumador precisa tomar precaução para que o unguento não seja contaminado pelas moscas mortas, assim, também, deveríamos vigiar para que não haja estultícia em nós, maculando a sabedoria e enlameando a honra. Salomão é enfático: “Nas palavras do sábio há favor, mas ao tolo os seus lábios devoram. As primeiras palavras da boca do tolo são estultícia, e as últimas, loucura perversa” (Eclesiastes 10:12,13).
A estultícia produz um desperdício de tempo, trabalho e recursos. O unguento precisou ser jogado fora. O perfume que deveria ser preciosíssimo, para nada prestou. O tempo gasto e os recursos investidos não trouxeram nenhum resultado, apenas frustração. O que é uma mosca morta num vasilhame de bálsamo? É uma coisa pequena, mas suficiente para estragar tudo. O que é uma palavra insensata no cômputo de uma vida inteira? Parece coisa pequena, mas é o suficiente para acabar com uma carreira. O que é uma atitude pecaminosa diante de uma vida inteira de cuidado? Parece quase nada, mas é o suficiente para arruinar um bom testemunho.
Vigiemos para que as moscas não voem sobre o nosso unguento. Acautelemo-nos para que a estultícia, ainda que em doses pequenas, não maculem nosso testemunho e não estraguem nossa reputação. Somos o bom perfume de Cristo. Devemos atrair pessoas a ele em vez de afugentá-las. Que Deus nos dê sabedoria para viver e nos livre da estultícia.
Rev. Hernandes Dias Lopes